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quinta-feira, 21 de março de 2013

A Amiguinha Imaginária

Fazia uma tarde bonita, bom para dar um passeio na praça, assim pensou Lisa, segurando na mão da pequena Lilian de seis anos e as duas se foram. A praça ficava perto da casa e logo chegaram; lá haviam muitas crianças brincando, contudo, Lilian era muito tímida, dessa forma, não saía de perto da mãe, por isso, pouco se divertiu e quando já estava começando a escurecer, as duas retornaram. À noite, Lili, como era chamada carinhosamente pelos pais, ficava agitada e há algumas semanas custava a dormir, no entanto, ao ir para cama não incomodava os pais. Durante o dia, estava sempre sonolenta e certa noite, muito tarde, a mãe levantou-se, pois ouviu a filha falando baixinho. Ao entrar no quarto, o abajur estava ligado, parecia que Lili conversava com alguém, então a mãe se aproximou e quis saber por que a filhinha ainda estava acordada àquela hora da madrugada, prontamente, a criança respondeu: 
- Estou brincando com a minha amiguinha, a Anita. 
A mãe sorriu e disse: 
- Ora, filha, vá dormir, não tem ninguém aí.
- Tem sim, mas ela já vai, mamãe.
- Faça de conta que acreditei, agora durma, mocinha!
Certa manhã, ao entrar no quarto, a mãe percebeu que estava tudo desarrumado, inclusive, colchões no chão e ao perguntar à filha o que tinha acontecido, sorrindo, ela respondeu:
- Foi a Anita, mamãe. Ontem, ela quis brincar de batalha. A mãe respondeu:
- Lá vem você com esta história de Anita. Anita não existe, filha!
- Existe sim, mamãe e ela não gosta de ficar sozinha. 
A mãe nada falou, arrumou o quarto e saiu preocupada. Depois, telefonou para a sogra sobre o que estava acontecendo e ela aconselhou que procurasse um psicólogo. Antes de sair foi estender a roupa no varal e a vizinha olhou por sobre o muro e sorrindo perguntou:
- E então, Lisa, tudo bem por aí? Ela respondeu que estava preocupada e contou o que vinha acontecendo. Muito séria a vizinha disse:
- Se fosse você, levava Lili na igreja.
- Ah, não acredito que tenha algo a ver com igrejas, Rita!
- Sei não, está história não está me cheirando bem.
- Olha, eu vou no psicólogo e depois te conto como foi.
Assim aconteceu e quando voltou, Lisa contou as novidades à sogra e à vizinha:
- Tá vendo, Rita? Isso é normal de acontecer, a Lili tem uma amiguinha imaginária e é próprio da idade dela! 
- Ah, tá! Você sempre acreditando nos médicos! 
- Psicólogo não é médico, eles nos ajudam a entender certas coisas.
- Tá bom, Lisa, vou entrar, mais tarde a gente conversa, preciso preparar o almoço.
- Ah, venha porque quero te mostrar umas compras que fiz hoje.
A vizinha falou que voltaria no fim da tarde e voltou. Olhou as compras, achou tudo bonito e depois, as duas ficaram conversando na frente da casa. Lisa segurava a mãozinha da filha, a pequena  Lili. Conversa vai, conversa vem, de repente, a criança se desprendeu da mãe e atravessou a rua correndo, a mãe gritou aflita:
- Lili, volte aqui! Volta, filha!
- Pera aí, mamãe, a Anita tá lá do outro lado e tá me chamando.
Não deu tempo de fazer mais nada. Um carro em alta velocidade passou, atropelou a menina, que em decorrência do acidente, faleceu.
Os dias de desespero foram longos para Lisa e após três meses de falecimento de Lili sonhou finalmente com ela. No sonho, Lili sorria e segurava a mão de outra menina, contou que estava bem e pediu para a mãe não chorar. Depois, foi se afastando lentamente falando: "eu disse, mamãe, que Anita não gostava de ficar sozinha." Lisa acordou gritando e ao amanhecer, ela e o marido fizeram as malas e mudaram de casa.

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