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quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Cartomante - Machado de Assis


Acreditam em cartomantes? Ciganas? Hummm, eu tinha tudo para acreditar pois minha avó por parte de mãe era cartomante. 

Chegavam muitas pessoas na casa dela: homens e mulheres ávidos por saberem o que o futuro lhes resevavam. Eu nunca tive curiosidade nem ela me  estimulava a saber.

O tempo passou e num dos momentos mais belos da minha vida, quis confirmar aquilo que na minha mente já estava consumado. 

Mas que decepção, viu? Na única vez que consultei minha avó, as cartas aniquilaram com meus sonhos, contudo pensei: "a vovó já está é delirando."

Ignorei a consulta e  fui concretizar o meu sonho. Nossa! Deu tudo conforme ela tinha visto nas cartas. Tudo que na minha mente estava sacramentado ruiu. 

Sendo evangélica, nunca mais quis consultá-la e minha avó por sua vez, aceitou a Jesus na terceira idade e abandonou a profissão.

Hoje, vou fazer um estudo a pedido de um aluno do Yahoo sobre o conto A Cartomante, de Machado de Assis; no Ensino Médio, eu só gostava de José de alencar mas chegando à universidade, conheci as obras do Machado e gostei muito por serem obras que falam da realidade dura, nua e crua.

Vamos começar com a análise estrutural da obra:

FOCO NARRATIVO: o conto é narrado em 3a. pessoa por um narrador onisciente.
Exemplo: "Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo."

TEMPO CRONOLÓGICO: assim registrado pelo narrador:
 "Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de Novembro de 1869."


ESPAÇOS GEOGRÁFICO: onde ocorre a história?
A História ocorre no Rio de Janeiro, na casa de Vilela, da cartomante e nas ruas por onde Camilo andou.
Exemplos:
Casa de Vilela: "Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela."
Casa da cartomante: "No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas."
A rua onde morava a cartomante:
"— Onde é a casa?
— Aqui perto, na rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca."

PERSONAGENS:
Vilela - esposo de Rita. "Vilela seguiu a carreira de magistrado. (...) abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado."
Camilo -  "Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público."
Rita - "uma dama formosa e tonta."
A cartomante - "Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos."

ENREDO: fácil de entender.
O tema do conto é o  triângulo amoroso e da infidelidade.  Camilo e Vilela eram amigos de infância mas ficaram muitos anos sem se verem. Vilela se tornou advogado e se casou com Rita, mais tarde, apresentou o amigo. O amigo passou a frequentar a casa de Vilela e começou a ter um caso com a esposa dele.  Como o marido parecia estranho, "sombrio, falando pouco, como desconfiado",  Rita resolveu consultar uma cartomante, contando ao namorado as previsões otimistas que ela lhe fizera. Camilo, o namorado, não acreditava em nada que não pudesse ser explicado pela razão, no entanto, recebeu uma carta anônima onde estava escrito que ele era  "imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos". Ele então passou a ficar inquieto, até que recebeu um bilhete do amigo, pedindo que comparecesse à casa dele "sem demora". Muitos pensamentos ruins passaram na mente dele e confuso, com peso na consciência, decidiu ir a casa do amigo. No caminho para lá, o tilburi encontrou obstáculo, parando pertinho da casa da cartomante e então, ele não resistiu e foi consultá-la. A cartomante o recebeu sorridente e disse-lhe que tudo terminaria bem, deixando o rapaz tranquilo, porém, ao entrar na casa de Vilela foi recebido com dois tiros à queima roupa, caindo morto ao lado do cadáver de Rita.
(Tilburi - tipo de charrete para duas pessoas, dirigida por um só).

CONCLUINDO: o leitor atento, vai lendo nos detalhes onde se encontram as verdades de Machado as quais passam despercebidas por um leitor desatento. Sucintamente ele afirma de Rita:

 "Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca."  

E sobre Camilo: 

 "(...) era um ingênuo na vida moral e prática." 

Além disso, afirma sobre a cartomante:  

"Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos." 

Sobre Vilela, basta sabermos que ele era advogado. Nesse triângulo amoroso, percebemos uma característica predominante nas obras do Realismo em oposição ao Romantismo: a razão prevalece sempre sobre a emoção. Camilo era cético e Rita supersticiosa. Há quem diga que a cartomante é a personagem principal e representa na obra a alienação do povo que até hoje, ainda crê  no místico e sobrenatural, advindos do senso comum. Deixo a critério de vocês decidirem se ela, a cartomante, era mesmo a personagem principal da obra, como sempre, o velho mago da literatura não nos dá pistas nenhuma sobre ela, a não ser o fato de o conto ter por nome, A Cartomante. Um beijo grande a todos.

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