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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Jura, Jurinha ...



Nem sei como começar, sempre venho adiando a falar sobre ela; venho afirmando por aqui que muitos dos traumas que temos são frutos da educação que recebemos na infância e só vim entender bem isso, depois de estudar disciplinas de Psicologia e fazer uma especialização em Psicopedagogia; tais cursos foram motivados por meus traumas infantis... bem, é difícil para mim, escrever sobre a minha mãe cujo apelido está aí em cima porque nosso elo forte foi até aproximadamente meus seis anos de idade. Depois, um oceano de indiferença pairou sobre ela em relação a mim - mas onde ela faltou, meu pai supriu. As lembranças não são boas pois o diálogo comigo era na base da pancada. Apanhava de galho de limoeiro, cheio de espinhos e a própria mangueira de molhar plantas que deixavam vergões onde batiam. Qualquer queixa dos outros nunca parava para me escutar - os outros sempre tinham razão.
Assim, as torturas sempre foram comuns na minha infância e as marcas deixadas não ficaram só no físico mas na alma também.Não considero que fui uma criança rebelde e como ela costumava me surrar na frente dos outros, era presa fácil por qualquer queixa, isso foi me humilhando, no entanto, conforme fui avançando na idade, passei a contar meus probleminhas de criança a meu pai, inclusive de escola. Ele já havia se recuperado de vários derrames seguidos e depois de 5 anos voltou a falar mas ficou com sequelas no corpo no lado esquerdo; mesmo assim, ia arrastando a perna esquerda com o braço na tipóia, resolver problemas de escola que omitíamos a ela. Éramos, nesta época num total de cinco filhos, dois recebiam um tratamento diferenciado por ela - o que ela mais amava a olhos vistos, Deus levou há dois anos; esse me causou muito problema na adolescência. Já perdoei, bem antes de ele falecer. Os outros três filhos que nasceram posteriormente foram mais privilegiados - mesmo assim, houve uma cena que talhou meu coração ao meio e foi com o irmão mais novo; tinha ele uns três ou quatro anos e quero crer que ele não se recorde disso: ele era muito danado, coisa de bebezinhos sadios e ... ( ) ela o amarrou num tronco de uma árvore onde embaixo havia um enorme formigueiro. Deixa eu passar rápido por essa parte pois são lembranças muito fortes e é como se um filme passasse na minha memória, tipo um flashback ... Não vou me ater nas minhas torturas psicológicas nem físicas mas adentrar agora nas análises que fiz acerca do comportamento dela; depois que meu pai faleceu, ela adotou quatro bebês seguidamente e era muito estranho vê-la com mimos a essas crianças e com tanta grosseria para com os cinco primeiros filhos. Reatando ainda o caso do pequeno Preto, hoje ele está em estado lastimável, consumido pelas drogas e dá muito trabalho a ela. Bom, quais motivos a levariam agir assim? A infância dela foi muito difícil visto que nasceu no Careiro da Várzea, município bem próximo a Manaus e teve que cuidar de três irmãos pequenos porque a minha avó, não suportando a vida miserável que levava, no primeiro barco que passou foi embora para Manaus. Mamãe sendo a mais velha, tornou-se revoltada com aquilo que ela via como um "descaso de mãe." No interior faltava e ainda falta de tudo. Vida difícil ... Mas isso seria motivo pra tratar os filhos tão mal? Na verdade, dizem que ela sofreu uma doença de criança, na linguagem popular, ainda quando minha avó estava com ela. Não sei o que é "doença de criança" mas possivelmente seja algum distúrbio mental; conversando com minha avó, ela afirmou que fez promessa a Santa Teresinha, prometendo trocar o nome da filha para Tereza, caso ela se recuperasse e se recuperou, assim promessa paga, nome trocado. Somente aos 18 anos minha mãe teve seu primeiro encontro com a minha avó e segundo minha mãe, achou estranho porque não mais se recordava dela, o relacionamento passou a ser de respeito entre as duas mas mamãe ... sempre vivia tecendo comentários com um certo desdém; por seu lado, minha avó, por parte de mãe, era um poço de ternura com as netinhas. kkkkkkkk ... ela sempre foi afeiçoada nas meninas e tenho as melhores recordações dela visto que, muitas vezes, foi meu refúgio acolhedor e eu passava as férias lá, no casarão humilde de dois andares onde havia um quarto muito arejado e limpo, com janelas largas frente pro igarapé do quarenta; ali, eu, tal qual minha avó, era estremamente fechada e dormia a tarde inteira com aquela ventania proveniente do igarapé o qual podia mirar lá de cima. O quintal da vovó Isa era enorme e ela era meio mística, criava animais diferentes como camalões, garças, tartarugas, tracajas, periquitos, tucanos e até mesmo aceitou um urubu visitante que apareceu no quintal ferido. Esse visitante foi cuidado e depois seguiu seu rumo. À noite, a visão era fantástica, quando o céu estava estrelado e em noites de lua cheia ... Essa casa ficava a dez minutos,indo a pé da minha. Saí muito cedo da família por forças destas circunstâncias entretanto, deixarei os aspectos positivos de Jurinha: uma mulher batalhadora, guerreira que assumiu as rédeas da família, quando meu pai adoeceu e ficou anos sem receber o ordenado, devido à burocracia; ela foi à luta e sem estudos, não comia o pão da preguiça, lavando muita roupa pra fora, pra segurar a barra de sustentar a grande prole. Outra herança dela, a minha fé em Deus pois, sendo muito humilde,sem condições de comprar remédios, se apegava mais em Deus para solucionar problemas de doenças. Neste sentido, ela era uma leoa. Tinha uma selvageria na luta pela sobrevivência admirável e não se curvava perante os reverses da vida e nisto fica um ponto muito positivo: ela não dormia dia e noite, caso um dos filhos adoecesse. Esta fé em Deus que tenho e este atrevimento para encarar a vida, recebi dela.Assim, enquanto meu pai amenizava, sendo um romântico sonhador, minha mãe me preparou pra guerra, a guerra da sobrevivência, pena que nem todos os irmãos seguiram esse exemplo dela. 







Scarlet Wind

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