Arquivo do blog

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Açucena e a Moedinha Derretida.




E lá se vem a nossa amiguinha Açucena, retornando da escola, no seu jaleco de tergal branco e seu short saia em tergal também, azul escuro. Aluna assídua da Rede Estadual de Ensino, essa garotinha ainda tem muito o que aprender; pois bem, logo na entrada da Ilha do Caxangá, sempre Omar a espera.

Naquele sol escaldante, perto da hora do almoço, os dois desciam a rua conversando. Os vizinhos de Açucena eram negros e isso foi importante para a menina pois foi crescendo isenta de preconceitos. Assim, a loirinha Açucena e o seu melhor amiguinho, o negrinho Omar costumavam contar os segredos um para o outro.

Nesta segunda-feira, o moleque não estava pra conversa, caminhava com os olhos tristes,  pensando longe. Então, a menina não resistiu e timidamente perguntou:

- Por que tu tá, estranho, Omar ? Perdeu a língua foi ?
- É ... Aconteceu uma coisa feia em casa e eu, eu, ora, eu não pude fazer nada, é isso, sou só um curumim tição, como todos me chamam.
- Viche, Omar, tu tá mal, heim ? Vamos sentar ali na calçadinha ? Tu vai contar o que aconteceu, tá bom?
- Tá bom, mas tu quer mermo ouvir ? É coisa feia, Açucena, coisa ruim que só homi consegue de ouvir.
- Quero ouvir sim, ah ... também não sou tão criancinha, já tenho oito anos, senta aqui na beirinha da calçadinha.
- Açucena, teve uma briga feia em casa e Jão tá internado.
- Que briga ... viche ... o teu pai deu um couro nele, foi ? Num pode bater no Jão, Jão até trabalha.
- Óia, vieram uns cara la do trabaio dele e pediram pra falar com o pai. Tu sabe como o pai é irgnorante e num sabe conversar.
- Ah ... por favor, não chora, eu vou chorar também.
- Sucena - os homi falaram pro pai que Jão roubou dinheiro e não podia mais vortar a trabaiá. Olharam tudo e não acharam dinhero cum ele, nem em casa.
- E eu num sei que Jão não é ladrão ? Disse Açucena com os olhos arregalados.
- O Jão tá no hospital, Sucena pro que o pai quis dá uma lição nele. Pegou uma moedinha e deixou derreter que nem aqueles ferros que ele derrete no estaleiro, puxou Jão pelo braço e colocou a moedinha no meio da mão dele.
- Ah, meu Deus, Omar, que maldade, tadinho do Jão  .. que dor horrível!
- Fez um buraco feio e fundo e .. ele gritou muito - disse Omar com a voz embargada.

Açucena abraçou o coleguinha e juntos choraram baixinho. Depois, desceram a rua sem conseguirem falar nada. Rapidamente se espalhou pela vizinhança o que seu Milton havia feito com o filho pois logo que ele saiu do hospital, gritava de dor porque para queimadura intensa não havia medicamento.

Ele era o filho mais velho de D. Anita que foi empurrada, quando quis defender o filho. Dois meses se passaram e num certo fim de tarde, Omar chegou correndo na casa de Açucena, dizendo chorando:

- Sucena, Jão desarpareceu e ninguém sarbe onde ele tá. É, ele fugiu de casa  e deixou uma carta pra mãe e disse que num vai vortar nunca mais.
- Ai, Omar, o seu Milton foi muito mau com ele.
- Foi sim e eu sor tenho pena da mãe.

E dizendo isso, Omar saiu dali correndo. O tempo foi passando e a história da moedinha, era tema das conversas da criançada que passaram a ter um medo terrível de seu Milton. O Jão fugiu para o Rio de Janeiro e nunca mais voltou a sua cidade, nem a passeio.




Scarlet Wind

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são bem vindos.Será um prazer ler a tua opinião.

: onselectstart='return false'