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sábado, 10 de dezembro de 2011

Momento singelo: infância, eu e meu pai!



Desde cedo eu adorava ler. Mas não era qualquer literatura não. Gostava de remexer uma estante velha do meu tio, lia um livro antigo de poesia, selecionava uma bem bonita e no fim da tarde,lia para meu pai. Enquanto eu lia, minha mente viajava nas imagens criadas pelo poeta e o olhar de meu pai ficava triste como a morte da tarde, enlutada pelo começo da noite. Depois de ler, ele me  perguntava: o que você entendeu do que leu ? Eu relembrava todas as imagens do poema, as paisagens, afirmando a beleza que a poesia me transmitira.  E esse foi o grande legado que meu pai me deixou pois quando entrei na faculdade de Letras, o  bicho papão de muitos alunos era interpretação de poesia. Hoje, lembrei de um poema que li para ele, quando tinha sete anos. Bateu saudade ... Vamos recordar?

A FLOR E A FONTE (Cair das Folhas )

Vicente de Carvalho

Deixa-me, fonte! Dizia
A flor, tonta de terror,
E a fonte, sonora e fria
Cantava, levando a flor.

Deixa-me, deixa-me, fonte!
Dizia a flor a chorar:
Eu fui nascida no monte
Não me leves para o mar.

E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria, levando a flor.

Ai, balanços do meu galho,
Balanços do berço meu:
Ai, claras gotas de orvalho,
Caídas do azul do céu!...

Chorava a flor e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte sonora e fria,
Rolava, levando a flor.

Adeus, sombras das ramadas,
Cantigas de rouxinol;
Ai, gestas das madrugadas,
Doçuras do pôr do sol.

Carícias das brisas leves,
Que abrem rasgões de luar...
Fonte, fonte, não me leves,
Não me leves para o mar!

As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
   Como a da fonte e a da flor...




Scarlet Wind

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