Olhos nos Olhos: Jully

Jully foi presente. As pessoas adoram me presentear com animais. Não tenho preferência por raças mas Jully marcou profundamente minha vida por ser doce, carinhosa e amiga. Tudo o que eu fazia era conversando com ela e por sua vez, ela me olhava profundamente nos olhos. Na hora do banho, seguia-se o mesmo ritual, muita conversa, lambida em meu rosto e ela não reclamava, gostava. Parecia que eu estava lhe fazendo um carinho. Na hora da tosa, o mesmo se repetia: Jully confiava em mim. No dia de sua passagem, eu andava estressada, estou sobrecarregada de trabalho, dormindo pouco, me alimentando mal e aonde ia, lá vinha Jully se aconchegar em meus pés. Conversei com ela e ela ? rsrs: au, au, pulou no meu colo, lambeu meu rosto, fitou meus olhos, sempre, olhos nos olhos. Saí do meu refúgio secreto apressada pois ja era perto das 18 horas, hora em que já deveria estar na escola. Esqueci de fechar a porta do meu refúgio secreto, local onde ficam meus excessos de livros e onde me tranco, quando estou triste. Este local fica independente da casa. Ao retornar do trabalho, percebi que a porta do quarto estava aberta, fui fechar e vi Jully "dormindo" sob o tapete, perto de uma cama de solteiro. Quando a peguei para levá-la para a varanda, percebi que seu corpinho estava completamente inflexível; tomei um susto e falei alto: Jully ! repeti, sacudindo o corpinho: Jully! E caí num choro profundo. Então levei-a pra dentro de casa, a agasalhei e não consegui dormir. O momento mais difícil foi a hora de enterrar, ainda tentei uma conversa, dizendo a ela que me aguardasse pois num futuro iríamos nos reencontrar e novamente fitaríamos uma nos olhos da outra como durante o tempo em que ela esteve por aqui. Deixo aqui minha gratidão e minha saudade a ela que sendo um animal soube preencher meus dias solitários com tanta ternura e atenção.

                                                             
                                                                Scarlet Wind