Arquivo do blog

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Regressando a Manaus ...


( Manaus será uma das sedes da copa de 2014 )

Voltei a Manaus, minha terra natal com saudades de minha mãe e de todos os parentes; depois de quase doze horas de vôo, cheguei finalmente à Manaus dos Trópicos... Tinha a alma cheia de alegria porque depois de dez anos ia rever a todos: menos um. Saí daqui adolescente, acreditando em príncipe encantado, cheia de ternura, esperanças nos olhos, amando crianças, flores e poesias. Voltei outra pessoa, mulher, mais decidida, mais romântica, sem perder a doçura, apesar dos problemas incomensuráveis pelos quais passei. Não encontrei o príncipe que só viria muito tempo mais tarde e chegaria num momento em que eu jamais imaginaria, compondo comigo uma história escrita na base da garra, da vontade de viver um grande amor e como toda linda história de amor, veio com a força da fé, vencendo obstáculos que se apresentaram dia a dia. O impacto maior ao regressar foi ver um terno inusitado azul, um par de sapatos lustrados os quais eu conhecia muito bem; eram de meu pai que minha mãe havia guardado como recordação ... de repente me senti combalida visto que até hoje, esta casa está impregnada de lembranças. Meu pai faleceu agoniando em casa, numa situação muito complicada, aos quarenta e nove anos de idade. Não pôde fazer cirurgia porque sofria de pressão alta. A situação da família ficou difícil  haja vista que a aposentadoria por doença passou por toda uma burocracia pervesa, muito pior na época do que atualmente. Segundo minha mãe, na hora em que passou muito mal, ela tinha uma receita de um medicamento que poderia fazê-lo adormecer - sem dinheiro, pediu a meu irmão que fosse na casa do irmão dela, meu tio por parte dela o qual possuía poder aquisitivo... às pressas, ela enviou um bilhete a ele com a receita e ele se recusou a comprar. Desta forma, meu pai piorou na madrugada e minha mãe falou a ele que não aguentava mais vê-lo sofrer tanto. Ele, com dificuldade de falar, respondeu que mais sofreu Jesus, sem merecer, apertou a mão dela e minha mãe chamou rapidamente os filhos que se despediram dele - e só deu tempo para isso ... difícil para eu escrever sobre este assunto, meu pai sucumbiu a um câncer de garganta, morrendo sem um medicamento que aliviasse a dor. Nesta época eu estava em Campo Grande - MS,  internada, estranhamente com um desiquilíbrio de pressão arterial; os médicos não conseguiam estabilizar minha pressão que ora caía muito, ora subia demais. Difícil de eu entender porque fui acometida disso porque não tive mais problema de saúde deste tipo. À noite, ainda no hospital, sonhei que recebia um telegrama escrito: "teu pai faleceu." Não me impressionei e cedo, o meu médico perguntou se eu estava bem e sorrindo contei a ele do sonho. Ele perguntou por que eu sorria pois esse era um sonho muito triste. Respondi que os meus sonhos sempre davam o contrário, sinal de que ele estava muito bem. O dr. Marcondes, segurou minhas mãos e disse que a Medicina não tinha como explicar esse acontecimento haja vista que na verdade, ele estava com o tal telegrama no bolso com as mesmas palavras; ele foi obrigado a abri-lo porque poderia ser uma notícia ruim e ele deveria pensar se entregaria ou não. Chorei copiosamente nos braços dele que não deu autorização para eu viajar. Eu era adolescente e já vivenciava essas histórias tão fortes! Naquele momento, fiquei atônita, parecia que haviam arrancado um pedaço de mim a sangue frio. Depois de uma semana tive alta e estava em casa quando ouvi o carteiro gritar: " Correio " ... Meu pai me escrevia duas cartas por semana, sem nunca escrever sobre doença. Nervosamente abri o envelope, nele havia uma fotografia e um bilhete com as letras difíceis de ler o qual dizia o seguinte:
" Minha filha: não passo desta noite mas não se preocupe onde quer que você vá, estarei contigo em espírito." Teu pai, Miguel . Olhei a data tudo coincidia com o dia da morte dele e meu sonho - fiquei chocada com a foto. Mas ele, com enorme fé e que passou a mim, sorria serenamente, a despeito daquele caroço horrível que ceifaria sua vida de forma cruel. Ao longe, no túnel do tempo, ainda vejo ele contar aquelas histórias sobre estrelas, mares e  noites enluaradas para uma menininha, sentada em seu colo, encantada pelo modo como ele coloria a vida dele. A ele, meu respeito e meu amor eterno.

By: Scarlet & Wind
: onselectstart='return false'