E tu nem te lembras da Casinha Pequenina ...

Um sonho que me acompanha desde criança, adentrou a adolescência e nunca morreu: morar num local assim: uma casinha junto à natureza, com um pequeno córrego, muito verde e alguém com os mesmos ideais de levar uma vida simples, longe da agitação da cidade. Sonho de alma que deveria ser compartilhado com outra alma. Nunca tive grandes ambições na vida, sempre acreditei que, quanto mais nos achegamos à natureza, mais perto estamos de Deus. O tempo foi passando e na luta pela sobrevivência fui tentando realizar os sonhos por ordem de prioridade; o curso de Letras nasceu desde os meus oito anos, quando li as obras românticas de José de Alencar, as poesias de Casimiro de Abreu. O curso é lindo, pelo menos o que eu fiz, não deixou a desejar; ali adentrei no universo dos autores, na poesia que tange minha vida, abri minha mente crítica para realidades contundentes da Sociologia, da Filosofia e para adentrar no mundo multifacetado da realidade dura, nua e crua, tive que despir meu romantismo e encarar o velho mago da Literatura, Machado de Assis e as verdades duras, da escola Realista. Nela não há lugar para sonhos, nem devaneios, pelo contrário, os sonhadores e românticos, sucumbem diante da maldade humana pois são vítimas dela. Não encontrei "o alguém" de que falei no início do texto, todos que passaram por minha vida, sempre foram muito racionais, guiados pelo espírito crítico e eu, dancei a música da razão, imposta por eles, sem nunca deixar de lado, o meu sonho: a casinha pequenina vive encantada aqui dentro da minha mente e eu nunca o deixei de lado; agora, olhando pra trás, ah ! como gostaria de ter realizado esse sonho. Oportunidades vieram como ir trabalhar na zona rural, mas quem estava comigo, tinha horror a essa idéia. Era uma oportunidade de eu realizar esse sonho e terminar meus dias, num ambiente sereno e eu sei que a companhia deveria ter esses mesmos ideais para que a vivência não se tornasse penosa. Agora, adentrando nesse universo virtual vejo tantas imagens bonitas as quais refletem a vida que gostaria de ter tido junto à natureza. Sou alguém fácil de lidar, simples, apaixonada, cujos sonhos não são inatingíveis. Gosto da simplicidade, da humildade, do sossego; não gosto da agitação da cidade, do glamour, dos requintes, dos luxos. A minh'alma é humilde e transparente como a natureza. Será que ainda há tempo de correr atrás desse sonho ? Curtir uma noite de lua cheia no campo, um céu estrelado com alguém ao lado, pra lá de especial e acordar com os passarinhos cantando, alguém me acariciando, o cheiro do café, saindo pela janela ... enfim, a vida simples que sempre sonhei e que deve fazer parte dos sonhos de alguém também ... a minha outra metade. É ele existe porém, tal qual a mim, anda em caminhos de concreto, vivendo como eu, uma vida que não satisfaz, que não nos preenche, que não nos dá paz. Enveredamos-nos pelo momento e há momentos onde não temos escolha, aceitamos aquilo que está na hora, imposição de forças atávicas que traçam o caminho que devemos seguir. Acredito que a vereda que ele segue é mais opressora do que a minha visto que eu ainda tenho esperança de realizar com ele, este sonho singelo. É ... apesar de tudo dizer o contrário, ainda ouso sonhar e ele faz parte desse sonho porque ele é a minha outra metade, a alma que tanto procurei e que encontrei numa circunstância muito ruim. Precisamos sair, ficar sozinhos, dialogar, interagir num momento só nosso e quem sabe, traçar um modo de vida onde poderemos sair do labirinto em que nos encontramos e desafiar as circunstãncias pois temos direito de sentir felicidade. Isso, quem irá nos responder, é o tempo, ele é o senhor das nossas vidas e corre contra nós.

By: Scarlet Mayara