Arquivo do blog

domingo, 19 de junho de 2011

Literatura : Viagem ao Sertão na Poesia !

"O sertanejo é, antes de tudo, um forte."  ( Euclides da Cunha )

Flashes da poesia  Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto.

Morte e Vida Severina é um poema que descreve a fuga do retirante Severino que nasceu na Serra da Costela, limite da Paraíba; ele segue rumo a Recife porque ali no sertão, os pequenos proprietários de terra estão sendo assassinados por não aceitarem vender suas terras por preço insignificante.  Na primeira parte da poesia, ele se identifica:

"O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias."

Movido pela esperança de conseguir um emprego numa cidade grande, Severino segue a caminhada; durante a trajetória, vai presenciando a fome, a violência do campo por causa de terras e os poderosos coronéis esmagando o pequeno agricultor. Seguiu seu rumo e tentou pelo caminho um emprego e viu apenas uma mulher que se dava bem em sua função: era a rezadora oficial do local, aquela que fazia a cerimônia religiosa que assim explicou sua função:

"Como aqui a morte é tanta,
só é possível trabalhar
nessas profissões que fazem
da morte, ofício ou bazar."

Como ali não oferecesse qualquer tipo de emprego, continuou sua jornada, assistindo vários tipos de injustiças, sempre feitas aos pequenos lavradores. O dono do latifúndio, se interessava pela terra e oferecia um preço irrisório, caso os pequenos lavradores não aceitassem, eles mandavam assassiná-los e se apossavam das terras. Se Severino permanecesse nas terras de seus pais, aconteceria o mesmo a ele. Finalmente o retirante chegou a Recife e lá não conseguiu ocupação porque não tinha qualificação profissional. Desesperado, percebeu que estava num mundo não menos cruel que o sertão e se desiludiu, assim afirmando:

"E chegando aprendo que,
nessa viagem que eu fazia,
sem saber, desde o sertão,
Meu próprio enterro eu seguia."

Assim meditando, ele prosseguiu até a ponte do rio Capibaribe. Pensativo, foi crescendo em si, a vontade de se matar. Sem perceber, aproximou-se de si Mestre Carpina, morador de um dos mocambos, existentes entre o cais e o rio; seu Carpina, homem humilde, passou a conversar com ele sobre a vida, o sofrimento e sobre a morte. Severino aproveitou o assunto e confessou seu desejo de morte por não ter nenhuma esperança na vida. Assim se expressando:

"Seu José, mestre Carpina,
que diferença faria
se em vez de continuar
tomasse a melhor saída :
a de saltar uma noite
fora da ponte da vida ?"

Seu Carpina não soube o que responder, enquanto pensava na resposta, uma mulher chegou gritando: "venha seu Carpina, não sabes que vosso filho soltou pra dentro da vida?"
Então todos correram para ver a criança, oferecendo humildes presentes; o filho de seu Carpina, nascera franzino e de baixo peso mas trouxe muita alegia à vizinhança pois era véspera de natal. Depois de ver seu bebê, ele se retirou e chamou Severino indo ambos para perto do rio, dizendo que tinha algo a dizer-lhe e afirmou com segurança:

— Severino retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.

Conclusão:

Apreendemos no trecho acima,o valor que Seu Carpina deu à vida, afirmando que apesar de convivermos dia a dia com a morte, a vida insiste em brotar e seu milagre renova-se todos os dias por ocasião em que o sol manifesta sua força, cumprindo diariamente sua missão; ao passarem por sofrimentos terríveis  muitos são levados a pensar que o melhor é morrer e buscam a fuga como solução de seus problemas, a morte. Seu Carpina, no entanto, foi enfático ao afirmar:
"É difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva. "

A mensagem final nos  ensina  que apesar de tantas dificuldades, tantas privações e desilusões, ainda assim, vale a pena viver, basta mantermos viva a esperança, lutando sem desistir para superar cada desafio pois só assim, ainda usufruiremos momentos felizes, dentro da severa vida a qual anda lado a lado com a morte. Severino desistiu do suicídio e se tornou mais um morador nos mocambos feitos à beira do cais, levando uma vida humilde mas também tendo direito de ter seus dias de alegria.

By: Scarlet Mayara


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são bem vindos.Será um prazer ler a tua opinião.

: onselectstart='return false'