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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Domingo Insólito .

"No domingo, há vários barcos que saem pela manhã e só retornam à tarde."

Bem cedo, saí sozinha, na linda manhã de sol. E era domingo das ruas solitárias e desertas. Lentamente, curti aquele momento só meu e calmamente me dirigi até o restaurante do Porto, localizado com frente para o rio Negro. Escolhi uma mesa no canto, acendi um cigarro e admirei o rio e a floresta; em evasão, saí dali e imaginei alguém comigo, fazendo um dia diferente: passeando e admirando o quadro que somente a mãe natureza poderia nos oferecer sem termos que pagar; de um lado, o rio negro, de outro, a floresta, acima, um céu límpido e azul. Meus pensamentos navegavam até ele no banzeiro do rio e só foram entrecortados pela presença do garçon que trouxe um café com leite e um "x caboclinho" - sanduíche tipicamente nosso, feito com tucumã e queijo derretido; eu agradeci e imergi novamente na paisagem , tentando encontrá-lo e a mim mesma. Turistas transitavam na minha frente indo em direção à cabine que vendia bilhetes para várias localidades ribeirinhas onde, a preço bem acessível, passeia-se de barco, voltando no fim da tarde. Eu estava triste e só, não queria voltar pra casa, e assim, decidida, paguei o que devia e comprei um bilhete para a Praia do Tupé - embora estivesse usando apenas short jeans e uma camiseta longa, traje que não me permitiria nadar. Não importa, naquele momento, eu queria mais era sumir da cidade. Assim, adentrei no barco e do lado da janela, vi Manaus ficando cada vez mais distante de meus olhos. Não percebi quando alguém se sentou a meu lado, eu estava vazia, desgastada com tantas discussões em casa que não levavam a lugar nenhum. "É muito difícil ressuscitar defundos", pensava eu. Nisto, a pessoa que estava a meu lado, puxou conversa em língua espanhola e passamos a viagem conversando: ele é biólogo e precisava fazer um trabalho de campo, na área dele, morava em Londres, a tudo fotografa, inclusive a mim. Ao chegarmos na praia, já haviam vários barcos e muita gente se divertindo e o meu companheiro de viagem passou a contar um pouco de sua vida, seus sonhos, sucessos e fracassos. Depois de almoçarmos, dançamos, nos divertimos, e eu pude esquecer momentaneamente meus problemas cruciais de existencialismo. Na volta para o meu casulo, tocava músicas calmas e o barco navegava sobre o rio de águas tranquilas e ao chegarmos ao ponto inicial, no Porto, meu amigo se despediu dizendo que a melhor filmagem que fez foi na câmera da mente e essa imagem guardaria com muito carinho. Timidamente, eu apenas disse: "gracias, hombre" - trocamos email, telefone e nos despedimos com um abraço fraternal - segui para minha realidade com uma vontade enorme de não voltar para casa, contudo, estava aliviada, porque depois de um longo tempo, consegui renascer e sair de dentro do casulo escuro a que me submeti  em nome de um amor que com certeza, nunca existiu.

By: Scarlet Mayara   

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