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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Na Alameda da Escuridão ...

 
"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite."
(Clarisse Lispector)


Quando criança, eu sentia muito medo de tempestades, de raios e trovões. Também só conseguia dormir com a  luz do quarto  acesa. Mais tarde,  já  adolescente,  esse medo ainda me acompanhou por toda essa fase.  No  decorrer  desse tempo,  a  vida sempre me pegava "desprevinida" e  tudo  me  assustava. Sofri  tombos  inevitáveis, como  a morte  de meu pai: um trauma que levei  comigo vida  afora, mesmo porque  não pude ir ao enterro e durante a trajetória da doença, ele ocultou de mim esse fato. Escrevia-me sempre com muito entusiasmo e quando eu apenas deixava no ar qualquer tipo de  problema, ele logo escrevia. "os problemas são buracos na vida da gente; uns pequenos, outros grandes, coloque, pois, uma pedra em cima deles, conforme o tamanho que eles tenham.". E eu, distante, acumulava cartas e ... saudades. Tinha então 17 anos e morava numa pequena cidade do Centro- Oeste;  ali  não  conhecia  ninguém  e  no  instante  em  que  caí  gravemente  enferma,  fez-se  um  deserto inóspito  dentro de mim. Na primeira noite, sonhei com um telegrama. Sempre fui meio mística e certas coisas não tenho como explicar. O telegrama chegou e uma carta. Naqueles tempos difíceis, lá pelas brenhas de Mato Grosso, cartas demoravam a chegar. O telegrama dizia a mesma mensagem do sonho: "teu pai, faleceu." Três palavrinhas que marcariam minha vida para sempre. Aos prantos, abri a carta, era dele .. sim,  a última carta e conseguira escrever, pouco é verdade mas escreveu, afirmando que sofria de uma doença fatal e que  sentia que pouco tempo lhe restava, daí escrever e mandar uma foto. A mensagem dizia que, mesmo ele indo embora, onde quer que eu estivesse, estaria comigo sempre, em uma outra forma de vida. Na foto, meu pai, no fragor dos seus  45  anos,  deixava  estampado  na face  a marca  da  enfermidade. Ainda  esboçava  um  sorriso como se quisesse deixar o melhor de si. A partir daquele momento, nunca mais vi meu pai fisicamente, a não ser por sonhos simbólicos no qual sempre trazia uma palavra de consolo ... Eu prossegui caminhando por uma estrada interior escura e triste, permeada  por decepções constantes tal qual  a pedra que recebe a fúria do mar da vida, batendo contra si ... Apesar disso, jamais perdi a doçura - nunca endureci e por onde vou passando, deixo vestígios de mim, apesar da incompreensão, da malícia e da inveja, procuro semear o que de mais bonito existe em mim. O meu segredo ? é que mesmo acostumada  na mais profunda escuridão, nunca perdi a fé no mestre Jesus o qual falava a corações e almas essas palavras:

  “Falou-lhes, pois, Jesus, outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.” João 8:12

Dessa forma, ao longo da minha vida, aprendi que posso ser o escuro da noite, quando me sinto abandonada, abatida, e em prantos.  Ainda assim, meus olhos conseguem enxergar além, muito além dessa escuridão sofrível, deprimente - uma luz no fim do túnel, a luz resplandescente de Jesus a qual se manifesta a todos que simplesmente acreditam nele pela fé e pela força do amor de Deus.


By: Scarlet Mayara - To my friends and my father Miguel.

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